sábado, 30 de abril de 2011

UMBERTO NUNES - Publicado em 30 de abril de 2011




















Futebol de Mesa e Ortopedia ? Sim Senhor !

Animado pela brilhante história do meu amigo Robson no blog do Gothe, resolvi relatar aqui a minha história no futebol de mesa, que se confunde com minha história na ortopedia. É interessante que cada pessoa tem histórias interessantes a contar, eu gostaria de ler um dia o relato do meu amigo e maior ídolo Guido Garcia (N.E. Já disponível no GOTHE CROMO GOL no http://www.gothecromogol.blogspot.com/ ou no link no topo do DICAS DE LINKS na barra lateral), de como ele começou a jogar, etc. Já li algumas histórias dele no blog do Círculo Militar de Poa, mas queria saber mais. Enfim, relato a minha história.

FUTEBOL DE MESA NO INTERIOR

Acreditem, meu primeiro contato com o futebol de mesa foi aos 6 anos, numa casa de campo nas férias ao visitar meu avô paterno, ao ver meu tio Airton e meu primo Júlio jogando na mesa da cozinha com botões de roupa. Na hora peguei alguns botões e fui jogar. Chegando das férias, os botões das roupas de casa começaram a desaparecer.

Daí foi para botões feitos em casa, times mesclados com tampas de vidro em que eu, meu primo e meu tio jogávamos na cidade todos os sábados um campeonato que durava o ano inteiro, com primeira, segunda, terceira divisões, cada um com 16 times, sabíamos a escalação completa de cada um dos times, porque pegávamos na revista Placar que meu tio assinava na época.

FUTEBOL DE MESA E ORTOPEDIA

Ao entrar para a faculdade de medicina o futebol de mesa ficou de lado, pois o tempo era dedicado aos estudos, pois a medicina assim exige. Também meu primo mudou-se de cidade, sendo ele meu principal companheiro no futebol de mesa (na época jogo de botão). No 5° ano da faculdade comecei a gostar da área de ortopedia e conheci um ortopedista, Luis Alberto Torre, e comecei a acompanhar seus plantões na Sta. Casa de Pelotas.

Transformou-se em referência para mim como ortopedista, como amigo e ......no futebol de mesa, pois conversa vai, conversa vem descobri que ele também gostava de praticar o esporte. Daí foi um passo para começarmos a jogar juntos. Fomos ao COP (Círculo Operário Pelotense) pois o Luis Alberto conhecia como paciente uma pessoa que era de lá e que só falava em "botão", chamado Jader Morales.

Ele e o Rosinha, pessoas incríveis, orientaram-nos a fazer cada um time oficial, lixaram para nós, e fomos disputar em 1989 a segunda divisão do COP, com times iguais, o Luis Alberto com um time verde e eu com um amarelo, sem nome, só com número. Ao final do ano, chegávamos à primeira divisão, ganhando até de alguns botonistas mais cotados.

Mas como estávamos treinando? Essa é ótima. O plantão do Luis Alberto era na sexta-feira, com muito trabalho até a meia-noite, depois acalmava. Seu consultório era em frente ao plantão, bastava atravessar a rua, e ele tinha uma sala sobrando, eu tinha uma mesa de botão "quase" oficial sobrando, entenderam ?

Jogávamos toda sexta, no plantão (não conseguíamos dormir mesmo) da meia-noite até 2 ou 3 horas da manhã, ríamos, tirávamos o estresse do plantão com o futebol de mesa. O Adão, um enfermeiro da Sta. Casa avisava quando chegava um caso para atender e em menos de 1 minuto estávamos atendendo, e depois voltávamos a jogar.

Hoje o meu amigo, colega Luis Alberto Torre reside em Canguçu e soube que está voltando a jogar por lá. A turma do futmesa de Canguçu é sensacional, tomara que os encontre novamente.

SANTA VITÓRIA DO PALMAR - FUTEBOL DE MESA DE VERDADE

De 1990 a 1993 fui fazer residência em Ortopedia na Sta Casa de Poa, afastei-me do futebol de mesa, pois a ortopedia tomava conta do meu tempo, além do que, em 1992 nasceu minha filha, e o tempo que sobrava dedicava a ela.

Ao terminar minha especialização fui trabalhar na Sta. Casa de Pelotas e na cidade de Santa Vitória do Palmar, onde resido até hoje. Lá, nos meus primeiros dias contaram-me que na cidade havia uma associação em que jogavam excelentes botonistas com Robson e Guido. Na hora os procurei e comecei a jogar achando que não deviam ser tão bons assim como comentavam.

Mas bah ! Nos meus primeiros jogos foram 0x4, 2x6, eu já ficava feliz quando ao menos conseguia fazer um golzinho, era baile e baile. Mas como todo apaixonado por um esporte, quanto mais eu perdia, mais queria aprender e aí chegou, como sempre, o Mestre.

Meu grande ídolo, professor e amigo Guido Garcia, talvez por enxergar uma pessoa que realmente se dedicaria ao esporte, ensinou-me TUDO que sei hoje sobre o verdadeiro futebol de mesa. Desde um bom time, uma régua, a educação na mesa, o treino, a tática. Como se não bastasse isto, era meu companheiro de treino duas a 3 vezes por semana, na minha casa ou na dele, vejam que privilegiado eu fui.

MEU PRIMEIRO CAMPEONATO OFICIAL

Disputei os campeonatos internos de Sta Vitória, e mesmo não os vencendo, o Guido estimulou-me a "sair" pois viu que eu estava evoluindo bastante. Em 1997 fui disputar em Rio Grande o Estadual Especial.

Na saída classifiquei-me na primeira fase e peguei o grupo do saudoso Nilson do COP, sendo que na última rodada precisava ganhar do Nílson para me classificar. No intervalo estava 1x0 pro Nílson, o Guido veio me dar força (não esquenta, o cara joga muito) e eu falei que o jogo estava pra mim.

O Guido virou as costas e foi para sua mesa, talvez pensando que eu estivesse delirando. Final, ganhei de virada 2x1, o Guido me atirou para cima com uma felicidade que eu jamais esqueci. Cheguei nas oitavas, desclassificado nos pênaltis pelo Alex Degani, um dos maiores botonistas do Estado e do Brasil, que acabou campeão (o Guido vice) naquele ano.

OUTROS CAMPEONATOS

Lembro o Centro-sul brasileiro em Poa, em que eu tinha que ganhar do Nilmar do COP (na época) para passar às oitavas, o Guido já classificado assistindo. Viu o quanto eu estava jogando, 0x0, quando fiz uma jogada pela esquerda com o meu time do Cruzeiro, cópia do time do Guido. Pedi a gol, o Guido veio no meu ouvido: - concentra que dá, era um chute muito difícil, mas a força mental do Guido fez a bola entrar, o Guido me atirou para cima, meus óculos saltaram longe, venci 1x0, e foi o momento mais bonito em termos de torcida e amizade que tive, jamais esquecerei.

Em 1999 fomos coroados com a conquista do Estadual por Equipes cavado (eu, Robson, Guido e Fred) e agora o título mais importante da minha vida, o Estadual por Equipes Liso. Sempre acompanhado do Guido e do Robson, como não ganhar? E agora com o Vinícius, o futebol de mesa ficou mais gostoso de jogar, pois formamos uma equipe de amigos, e se Deus quiser, agregando mais e mais amantes do futebol de mesa.

Grato a todos pelo companheirismo, especialmente ao meu ídolo e amigo Guido, mestre e incentivador.

domingo, 24 de abril de 2011

MARCELO VINHAS - Publicado em 23 de abril de 2011




















MARCELO VINHAS

" Primeiramente gostaria de agradecer ao Gothe pelo convite. Muito do que sou, devo a esse esporte, por isso o texto em formato semi-autobiográfico. Fica um agradecimento especial aos corajosos que conseguirem ler o texto até o final.

O ano era 2009...

... e estava eu vestindo a camiseta da FGFM no salão do Círculo Militar de Porto Alegre. Jogar naquele salão é o que há de mais glamouroso no futmesa gaúcho. Era inverno. Por baixo uma camiseta manga longa do Brasil de Pelotas, meu time do coração. Colocava eu meus botões na mesa para jogar a final no Centro-Sul Brasileiro da modalidade liso. Depois de eliminar Emanuel (ES) e Piruka (RS), a final seria contra meu amigo capixaba Marco Moscoso.

Só a vitória interessava. Uma vitória que poderia me dar o título de tricampeão, em três participações. Foi então que meu adversário se aproximou de mim e disse: “Você sabe a consideração que tenho por você e por Osmar. Pra mim esse jogo será como um amistoso e não precisaria nem de juiz”.

Alguém sabe por que um boxeador leva uns tapas na cara antes de subir no ringue? Para entrar no clima do combate desde o primeiro segundo de luta. O meu tapa chegou aos 10 minutos de jogo. Golaço de Moscoso e comemoração estrondosa no salão. Foi então que percebi que aquilo não era um amistoso.

No início do segundo tempo, Lela (quase sempre ele), em jogada de saída de bola na ponta direita empata o jogo. Mas ainda faltava um golzinho. Do outro lado Moscoso cavava tudo! Faltando pouco mais de 5 minutos, consigo encaixar uma boa jogada e Moscoso se prepara para novamente cavar. Desta vez o lance era mais difícil. Se ele errasse, eu ganharia um “dois toques”. Mas algo melhor me esperava: gol contra!

Recebi muita força da gauchada durante a final, com destaque para alguns que estiveram o tempo todo ao lado da mesa, como Maciel, Augusto e Guido. Veio o título que em determinados momentos parecia impossível. Mal sabia eu que muitas emoções ainda estariam por vir.

O ano era 1990...

...e num fim de tarde de domingo estava eu na casa de meus avós, quando meu dindo chega fardado de APFM com um grande troféu no formato do Rio Grande do Sul na mão. Não lembro de tudo o que ele dizia para meu avô enquanto mostrava o troféu, mas umas palavras ficaram gravadas: “O cara ainda não tinha perdido pra ninguém, e eu ganhei dele de 3x0”. Anos depois entendi que se tratava da final da Taça RS de 1990, contra o jaguarense Álvaro Pitchon. Achei aquilo fantástico!

Outro dia o dindo me pega em casa numa manhã de domingo e me leva para ver uma gurizada jogando botão. Mais tarde fui saber que eu estava na sede da APFM. “Bem Michel!” disse meu dindo após ver um gol de Michel Pierobom, que parecia ser “o melhor” dos que ali jogavam. De repente aparece alguém do meu tamanho. Que idade tu tens, Tiago? – perguntou meu dindo. Sete – respondeu um dos fihos de Pierobom. Era a minha idade.

Aquilo não passou de uma visita. Segui mais alguns anos jogando puxador na volta de casa, no bairro Jardim, de onde também saíram outros botonistas como Bruno Vieira e Augusto Nedel, meus amigos desde a infância. Anos mais tarde, ganhei num Natal um time verde, oficial. Falei para o dindo que faria um Coritiba. Tempos depois ele me aparece com um Coritiba de números e nomes inseridos com decadry. Era a escalação campeã nacional de 1985, com a qual ainda jogo.

Também ganhei de presente uma tal de régua. “Vai treinando com isso aqui”. Hoje entendo o porquê de não saber segurar uma ficha. Foi um presentão.

O ano era 1993...

... então com 10 anos estava eu “pegando” uma mesa que havia sobrado em uma rodada de sábado da APFM. Depois de muitos anos (talvez desde os 4) jogando com puxadores, era a vez dos oficiais do Coritiba entrarem em campo.

Um guri um pouco mais novo, de óculos, voz fina e uma camisa parecida com a da Ponte Preta se aproxima para ver meu time. Pergunto seu nome e ele responde: Mateus. Jogamos um amistoso (que ganhei por 1x0, hehe) e desde então ficamos amigos.

Em 1994 entrei para os Juvenis da APFM, ficando em 3º lugar. Em 1995, ainda nos juvenis da APFM, joguei meu primeiro Estadual da categoria. Caí na primeira fase, sofrendo algumas goleadas. Meu primeiro jogo foi contra Vinícius Auch (COP), de quem perdi por 4x0. Mais tarde, perguntei para alguém, quem tinha sido o campeão. Foi um tal de Alex, de Rio Grande – responderam.

Em 1995 meu jogo melhorou bastante quando passei dos Juvenis para a “1ª divisão” da APFM, como era chamada a divisão de acesso à Especial. Apesar disso, segundo as avaliações do Osmar, minha defesa ainda era fraca. Eu realmente sofria muitos gols, mas me sentia desconfortável jogando “fechado”. Começava ali a minha busca por um jogo agressivo e de defesa forte.

Santana do Livramento mudou a minha vida

Foi para lá minha primeira viagem pelo futmesa (1996), que seria para assistir a um Estadual Especial. Da delegação da APFM faziam parte Osmar, Alexandre, Zilber, Aldyr, Luis Fernando e Gustavo. Todos no mesmo hotel, muita bagunça longe das mesas! Um lado do futmesa que eu ainda não conhecia, e me apaixonei.

Antes do início do campeonato, ouvi alguém falar que o atual campeão era um tal de Cristian. De repente ouço o Alexandre gritar em direção à mesa organizadora: “Marcelo! Marcelo!” Eu não sabia de quem estavam falando. Me assustei quando fiquei sabendo que aquilo se tratava da minha inscrição do campeonato.

“Não quero jogar”. Mas não adiantou, fui convencido por Osmar e Luis Fernando. Então com 13 anos, meu jogo de estréia seria contra um tal de Betão. Logo no início sofri um gol de corte monstruoso e um berro na cara, ou forte comemoração. Caí na primeira fase e a partir dali pude observar jogos interessantes.

Robson Bauer virou meu ídolo no esporte depois que o vi chutar no travessão uma bola que 95% dos botonistas nem pediria à gol. No entanto, em seguida, vi Robson perder para o tal campeão Cristian. “Pô, o cara é bom mesmo”. No mesmo campeonato, Osmar jogou com o Cristian duas vezes e conseguiu dois empates. “Pô, o dindo não perdeu nenhuma vez pro cara que ganhou do Robson!”. Resultado final: Cristian foi o primeiro bicampeão gaúcho. Aldyr e Osmar ficaram respectivamente com 3º e 4º lugares.

1997 e meu primeiro “Mapinha”

Vinhas, Bruno, Augusto e Zé Victor. Eram esses os representantes da APFM em Bagé, no Estadual de Juvenis. É impressionante, mas fiz contagem regressiva durante uns 100 dias para esse campeonato. Anotava o número à lápis num cantinho da mesa na escola. Na época, com 14 anos, cursava o 1º ano do ensino médio.

Sorteadas as chaves, adrenalina pura. Fui então assistir um jogo entre 2 dos meus futuros adversários. Ambos eram visivelmente iniciantes, ainda assim eu estava muito preocupado.

Tendo percebido meu nervosismo, ao intervalo da partida o dindo me chamou e me perguntou: Já viste, né? Eu não sabia o que ele queria dizer. O quê? – respondi. Que esses não são adversários pra ti – finalizou. Foi a frase mais motivacional que ouvi nos meus então poucos anos de futmesa. Venci um deles por 4x0 e o outro por 5x0. Segui empilhando vitórias até a semi-final, onde meu adversário seria um santavitoriense chamado Deivili.

Não nos conhecíamos e não tínhamos conversado até o momento, mas havia respeito mútuo. O jogo truncado terminou em 0x0 e foi para a prorrogação. Faltando 2 minutos para o final, ele pede à gol numa bola com perigo de falta. Coloquei o goleiro quase todo num canto, não acreditando que ele pudesse mandar aquela bola no gol. Inexperiência da minha parte, pois a bola entrou no meio do gol à meia altura. A comemoração de Deivili e dos demais santavitorienses liderados por Guido durou mais ou menos 1 minuto de pura gritaria. Levei pra casa o meu primeiro “mapinha”, de 3º lugar.

Academia de Futebol de Mesa

Foi fundada a Academia e pra lá eu fui, deixando muitos amigos na APFM como Bruno e Augusto. Na Academia jogavam Osmar, Alexandre, Figueira, J.Malhão, P.Malhão, Pierobom, Michel, Mateus, Tiago, Zilber, Diego, Gustavo, entre outros.

Ainda em adaptação na Academia, não tive grandes resultados em 98. Entretanto no Estadual de Juvenis fui sorteado na chave de Deivili e venci por 4x1, mas acabei caindo na segunda fase. O campeonato foi vencido pelo Bruno, então na APFM. Deivili foi o vice.

Em 99, com 16 anos, fui campeão do Fronteirão, em Livramento, enfrentando Bruno na final e vencendo nos pênaltis. No Estadual Júnior acabei na terceira colocação. O campeão foi Renan Baptista, com Bruno vice.

No ano 2000, após vencer Augusto nos pênaltis da semi-final, novamente uma final com Bruno, desta vez no Estadual Júnior. Perdi por 1x0. Depois de muita insistência, fui campeão em 2001, vencendo Felipe Souza na final por 3x1, quando com 18 anos e habilitação provisória, viajei sozinho de carro até Bagé.

Aos poucos eu estava conseguindo atingir o meu objetivo de estabelecer um padrão de jogo agressivo e com defesa forte, e ainda em 2001 fui campeão do campeonato longo da Academia. “Não dá pra deixar o Marcelo chutar”.

De 2002 até 2004, algumas boas colocações como mais um Campeonato Pelotense, um vice e terceiro lugar Estadual por Equipes e um 3º lugar no Brasileiro Livre, mas nada de grandes títulos. Embora sempre presente, o futebol de mesa havia dado uma esfriada na minha vida enquanto namorava, trabalhava, cursava faculdade de Administração e tocava bateria.

Em 2005 tudo mudou...

... quando comecei a treinar quase diariamente com o Pedrinho. Sim, quase todos os dias das 18:00 às 18:50. Nessa época fui me aproximando do meu auge técnico nos cavados. Chega então o dia do Estadual Especial. Meu companheiro de treinos iria viajar no final de semana e não poderia jogar.

Eu sabia que já era um botonista de nível competitivo, mas sinceramente não acreditava que pudesse ser campeão. Venci todos os jogos na primeira fase. Na segunda, comecei tropeçando, levando um gol de Jossicar (Bagé), mas consegui buscar um suado empate. Na seqüência venci todos os jogos até chegar à final onde venci por 2x1 o botonista Charles Bastos (Bagé), então revelação da competição.

Instantes depois, em meio a muitos abraços e cumprimentos, recebo duas mensagens no celular. A primeira dizia “Melhor campanha da história”, remetente: Dindo. A segunda dizia “Soquei o campeão estadual na quinta”, remetente: Pedrinho.

Ainda em 2005 cheguei à final do Brasileiro Livre, contra Luis Rodalles. Até a final ele havia vencido todos os jogos e eu havia empatado um. Vantagem para ele e jogo terminado em 0x0. Vice-campeão naquele que seria o meu último Brasileiro na modalidade livre. Nesse mesmo ano venci novamente o Campeonato Pelotense.

Ainda em 2005 fiquei sabendo que seria realizado no COP um Estadual Experimental de Lisos. Eu nunca havia jogado de lisos, mas liguei para o Ivan Ribeiro dizendo que precisava de um time liso pronto em uma semana. Time pronto e vamos para o jogo.

De forma inacreditável estréio vencendo o Mateus por 2x1 de virada. Matias era um dos favoritos por já ter sido 3º lugar num Brasileiro de lisos. De forma surpreendente, passei por outros adversários como Aldyr e Nilson, e cheguei na final contra Augusto, então pela APFM. Jogo terminado em 0x0 e fui campeão nos pênaltis. Pelo telefone, Osmar não acreditava que eu havia sido vencido. “Hahaha, campeão?”.

Meses depois a Associação de Futebol de Mesa de Caxias do Sul estava voltando ao cenário do esporte no estado e promoveu a Taça 40 anos AFM Caxias. Lá fui eu para colocar meus lisos na mesa pela segunda vez. Fui campeão, fiz muitos novos amigos, como Daniel Maciel, com quem joguei duas vezes no torneio. A modalidade Liso foi oficializada na FGFM pelo presidente Cláudio Schemes.

O Golaço

Em 1996 peguei o carro e fui sozinho de Pelotas até Criciúma, para jogar o Centro-Sul Brasileiro de 1996, o último em que optei pelos cavados.

Sempre tive um bom aproveitamento em chutes de média distancia, mas não me considero um grande chutador de longa distância como Victor Mecking, Mateus Pierobom ou Rodalles. No entanto já fiz alguns gols antológicos. Talvez o maior deles tenha sido nas quartas-de-final deste Centro-Sul, contra Felipe Souza.

Vi que Felipe jogou em direção à bola na intermediária, para cobrir. Pedi à gol e o relógio tocou. O jogo estava 0x0 e ele ia se classificando às semifinais com o resultado. Eu tinha um levantador de cada lado, cada um próximo ao escanteio do meu campo. Há quem diga que os botões não passavam por nenhum lado, mas optei pelo Edson, que estava pela esquerda, e a bola entrou sobre o goleiro que estava quase colado na trave. Fiz a volta olímpica.

O Primeiro Estadual de Lisos...

... foi em 2006. Fazia muito frio em Caxias do Sul. Venci todos os jogos da primeira, segunda e terceira fase, até chegar à semi-final quando um empate contra Piruka me garantiu na final e jogando com vantagem. O adversário seria o caxiense Daniel Pizzamiglio.

Já havia enfrentado Daniel no decorrer do campeonato e vencido, mas sabia das dificuldades. Um caxiense chamado Cláudio Carvalho veio me dizer antes da partida: Esse jogo vai ser difícil pra ti, ele está no dia dele! Comecei bem, mandando um chute de longa distancia no travessão, mas em seguida fiquei sem defesa e cedi um “dois lances”. Pizza chuta no goleiro.

Na saída de bola do segundo tempo Pizza comete falta técnica. Ainda com características do jogo de cavado, digo “vou cavar”. Vejo que a bola veio na minha direção e tento esquivar, mas o árbitro Claudinho assinala o pênalti, convertido pro Pizza e festa dos donos da casa.

Não me restava nada senão ir para cima. No melhor estilo cavado, um chute à bater passa perto. Em seguida uma bola no goleiro que parecia não querer entrar. Faltando 3 minutos, em mais uma jogada de cavado, estilo “porco”, na ponta direita e Lela (quase sempre ele) marca o gol do título. Foi uma conquista muito importante, pois ganhei o campeonato e um grande amigo, que mais tarde também se tornaria campeão gaúcho.

Ainda nesse ano, joguei a final da Taça RS contra o gordinho Victor Mecking. Apesar de ambos chegarem com campanhas idênticas, ele possuía a vantagem por ter melhor saldo de gols. Foi um grande jogo, terminado em 1x1. Fiquei com o vice-campeonato e no ano seguinte o critério saldo não fazia mais parte das competições da FGFM. Venci novamente o Campeonato Pelotense nesse ano.

2007...

... chegou, e com ele novos desafios. Durante o ano inteiro alternando partidas de liso e de cavado, cheguei com força no Estadual de Lisos. Porém na semi-final fui derrotado por André Marques, que no final se sagrou campeão. Acabei em terceiro.

Logo em seguida, cheguei à final do Centro-Sul Brasileiro de Lisos, em Pelotas, contra o fenômeno Sérgio Pierobom. Venci por 2x1.

Talvez esse tenha sido o ano em que consegui jogar lisos e cavados de forma mais equilibrada. Meses depois fiz grande campanha no Zona Sul e cheguei à final contra nada menos que Silvio Silveira. A vantagem era minha, mas um “porco perfeito” no fim do jogo poderia estragar a festa. A régua de Silvio não entrava e sua ficha entrou em ação. Quem também entrou em ação foi meu goleiro (Rafael Camarota) que lançou no pé de Lela, que fez o gol do título.

Logo depois veio a Taça RS, numa chave nada fácil, com Alex Degani, Victor Mecking, Careca, Diogo Mallet, entre outros.

Nessa Taça RS conheci um cara chamado Douglas, do Círculo Militar, que estava acompanhado de seu filho mais novo, ainda criança. Douglas me disse que a vida é feita de vitórias e derrotas e que o futebol de mesa não é como um vídeo-game, em que se pressiona “reset” e começa tudo de novo. No futmesa é preciso saber encarar as vitórias e derrotas, por isso achava importante incentivar o filho no esporte.

Após empatar com Marcelo Mallet na semi-final, cheguei à final contra Ricardo Moraes e venci por 2x0 (foto).

Em 2008...

... com exceção de um empate contra Brandão, venci todos os jogos até chegar na semi-final do Estadual de Liso, contra Daniel Pizzamiglio. Num lance que só me aconteceu uma vez na vida, o botão (13 – Hélcio), que deveria correr toda a mesa, afastando a bola, não andou nem um palmo e sequer tocou a bola. Gol de Pizza, que na final venceria César Keunecke e se tornaria o então mais novo campeão gaúcho de lisos.

Venci novamente o Centro-Sul de Lisos, desta vem em Vitória-ES, numa final contra o carioca Robson Marfa.

Mais tarde mais uma final de Zona Sul. Após reverter a vantagem de Alessandro Rosa, cheguei à final contra Alex Degani. Eu estava em desvantagem em relação ao empate e considerava Alex o adversário mais forte nos cavados, por isso achei o desafio interessante. Sempre acreditei que desafios são como combustível, além de serem necessários para qualquer evolução. No entanto, nem sempre é possível vencer, e Alex vence a final por 2x0.

Mais tarde venci novamente os campeonatos longos internos da Academia, livre e liso.

Em 2009...

... o então presidente André Marques procura a mim e Augusto para informar que no final do ano estaria deixando a presidencia da FGFM. Começa ali o desenvolvimento de uma idéia e, posteriormente, a formação de uma chapa. Confesso que já pensava nisso, mas não para assumir aos 26 anos.

Após vencer todos os jogos, com exceção de empates contra Carlos Kuhn e Luciano Carraro, chego à semi-final do Estadual de Liso contra Careca. Saio perdendo. Consigo um empate suado e emocionante quando faltavam uns 4 minutos para o final. O empate era meu, mas no final do jogo Careca ainda marca um gol contra. Na final venço Luis Rodalles por 1x0.

Após o tricampeonato Centro-Sul Brasileiro de lisos, na final disputada contra Moscoso, começo a trabalhar na formação da chapa. Tive a felicidade de ter a aceitação de quase todos com quem eu queria contar trabalhando comigo.

No Brasileiro de Clubes, disputado dentro do Estádio de São Januário, tive a então minha pior derrota. Não simplesmente por ter sido derrotado, mas por junto comigo meus amigos e companheiros de equipe também terem sido eliminados. Foi na semi-final da modalidade livre, contra um carioca chamado Alênio. Academia terminou em terceiro lugar. A Portuguesa de Alênio foi campeã.

Na modalidade liso, chegamos à final contra a ACRA, equipe então campeã baiana. Após um primeiro tempo encerrado com 3 derrotas, no segundo tempo consigo empatar contra Aragão, Augusto empata contra Lucas Maluquinho e Mateus, que estava perdendo de 3x0 para Danilo, busca o 3x2, mas não havia mais tempo. Academia vice.

Venci novamente os campeonatos longos da Academia.

Ao final da Taça RS daquele ano, vencida por Marcelo Mallet, recebi o título de Presidente da FGFM. Pela frente, mais um grande desafio.

No ano de 2010...

... ausência de grandes títulos individuais. O ex-presidente André falou que isso se trata da tal “praga do cartlola”. Porém, conquistei um grande sonho, que veio em dose dupla. Mesma equipe, mesma cidade e mesmo título. Em modalidades diferentes, a Academia se sagrou Campeã Estadual por Equipes, um feito inédito. Junto comigo jogaram Augusto, Mateus e Zilber.

Pouco tempo depois, minha pior derrota. Estávamos em Vitória-ES. “Vamos jogar só o liso?” – insistiam Mateus e Augusto. “Não!” – respondia eu. Na noite de sexta tivemos um churrasco entre os botonistas, realizado na casa de Fernando Miranda. Para a infelicidade de Mateus e Augusto, acordamos cedo no sábado, para jogar o Brasileiro de Clubes Livre.

Sentados à mesa do café da manhã, Mateus dispara: “Alemão, vamos lá, vamos jogar e vamos ganhar essa porr*, para o Marcelo parar de nos encher o saco com essa história de cavado!”

Chegamos à final, contra nada menos que um time formado por Alex Degani, Silvio Silveira e Duda. Eles tinham a vantagem, pois haviam obtido uma vitória a mais. No entanto, Mateus abre o placar contra Alex. Minutos depois Augusto tem uma falta contra Silvio, mas chuta no goleiro. Mateus marca o segundo, e seu jogo termina no mesmo instante que erro uma cober btura que terminou com o gol de Duda. Acho que não preciso falar sobre a comemoração.

Mais tarde venci o campeonato longo de liso da Academia. No livre, perdi a final por 1x0 para Augusto.

Brasileiro, capítulo à parte

Em novembro de 2009 acompanhei o presidente André Marques na assembléia do Campeonato Brasileiro que ocorreu em João Pessoa. Ainda nem era presidente da FGFM e já caía um Campeonato Brasileiro na minha mão.

Um ano depois... Organizar um Brasileiro em Porto Alegre morando em Pelotas. Jogar o Brasileiro? Sim, claro, mesmo entre uma tarefa e outra, entre uma incomodação e outra, jamais deixaria de participar. Por sorte recebi muita ajuda, de pessoas comprometidas com o esporte. Não as citarei agora para não correr o risco de esquecer alguém, mas o maior apoio veio do próprio André, naquele momento ex-presidente da FGFM e Diretor Técnico da CBFM.

Aproximadamente 200 participantes presentes no salão do Hotel Continental. Um dos maiores Brasileiros de todos os tempos.

Na primeira fase venci os 3 jogos, sendo um deles contra o campeão brasileiro Dudu (BA), um cara que já cheguei a considerar o melhor botonista do Brasil. Na segunda fase venço novamente meus dois jogos e vamos ao mata-mata. Primeiro adversário: Ivo (BA).

Eu sabia que o cara jogava muito, mas eu já o havia vencido. Além disso eu tinha vantagem. Fiquei sabendo que na noite anterior Ivo havia comemorado a subida do Bahia à primeira divisão. Talvez por isso ele tenha abandonado o jogo após eu marcar 2 gols. Ele realmente não parecia bem.

Entre os 16 termina o primeiro tempo e estou perdendo de 2x0 para Rodolfo Feliz (ES). A vantagem era minha, mas ele era superior no jogo e parecia não haver forma de reverter o placar. Recebi muito incentivo no intervalo. “Vinhas, não desiste!” Achei um gol no meio do segundo tempo, e vamos ao ataque.

Consigo uma boa jogada, que Rodolfo tapeia para perto de sua linha de fundo. Faltava 1 minuto e com meu ponta esquerda consigo cavar um escanteio no goleiro, para armar outra jogada. Novo tapa de Rodolfo, mas dessa vez eu conseguia chutar. Peço à gol e o tempo acaba... O nome dele era Índio, camisa 9.

Entre os 8, Tiago Feliz, irmão de Rodolfo e igualmente técnico e competitivo. Faço 1x0, mas sofro a virada. Consigo o empate, suado. Faltava 1 minuto e recebo um dois lances. Passe bem feito, mas não era último chute. Até ali eu havia vencido 6 jogos e empatado 1. O clima era tenso e eu não estava disposto a correr riscos. Intencionalmente chutei para fora e instantes depois o jogo acabou. Alguém já ouviu falar em efeito borboleta?

Semi-final, Aldemar (RN). Um grande botonista, que já havia sido campeão do Nordestão. Figueira diz “esse é o cara pra matar”. Eu estava muito tranqüilo, e consegui vencer por 1x0, possuindo a vantagem.

Um ano antes, em João Pessoa, fui cumprimentar Diógenes pelo título nacional (penta ou hexa?). O primeiro jogo dele naquele campeonato havia sido contra mim. Perdi por 1x0, num grande jogo. Em momento raro, Diógenes estava sorrindo. Um aperto de mão, um abraço e ele me diz: “Você chega lá, eu estou esperando por você”.

Enfim, estou na final de um Campeonato Brasileiro de Liso, um terreno até então desconhecido para qualquer gaúcho. Porém, do outro lado não estava Diógenes. Difícil acreditar, mas quem estava lá também não era nenhum baiano. Meu adversário seria um carioca que jogava de ficha, algo raro nos lisos. Um carioca que já havia me vencido nos cavados. Um carioca que antes de chegar à final havia eliminado Mateus Pierobom e Marcos Piruka na seqüência. Sim, do outro lado estava Alênio.

Até ali eu havia vencido 7 jogos e empatado 2. A campanha de Alênio era a mesma. Sua única vantagem foi a de ter vencido o sorteio da mesa.

Apesar da autoconfiança, comecei mal. Durante todo o primeiro tempo praticamente não acertei o “toque” da mesa, errando sempre a força. Sendo assim, não consegui produzir nada. Intervalo, e estou perdendo por 1x0.

Contra Rodolfo e Tiago eu precisava buscar o placar após o intervalo. Coincidentemente no intervalo de ambos os jogos pedi que Osmar me comprasse um refri. Contra Aldemar eu não precisava buscar o resultado, mas também ganhei um refri no intervalo, pois estava dando tudo certo. Agora na final, mesmo sem pedir, o refri chega, e com ele mais um gol de Alênio, que jogava demais.

Consegui descontar (2x1), mas a festa foi carioca.

Finalizando

Peço desculpas por ter me estendido demais no texto. Foram 10 páginas, e me esforcei para que não fossem 100. Agradeço novamente aos que até aqui chegaram. Para terminar, uma frase minha mesmo. Certo dia, em viagem para o Estadual de Liso de 2010, Alexandre Gomes me perguntou por que eu havia assumido a FGFM. Respondi que me sentia em dívida com esse esporte, e queria trabalhar por ele. Respondi que o futebol de mesa era muito mais importante para mim do que eu para ele ".

domingo, 3 de abril de 2011

SAMBAQUY - Publicado em 02 de abril de 2011




















Talvez você estranhe ver o Sambaquy assim tão solone (foto), e não com uma camisa de futebol ou sobre uma mesa de botão.

Mas quando "ouvimos" o Sambaquy falar sobre Futmesa, parece mesmo um momento solene. Não que ele seja solene, pois sua "fala" corre ao natural.

Você já leu sobre o Adauto Celso Sambaquy e já conhece muito do que ele escreveu nos vários textos que produziu e que são encontrados em vários sites e blogs da rede, nos recados que envia para todos nós, mas hoje vai conhecer sobretudo o Sambaquy pelo Sambaquy.

Mas vai reparar igualmente que não fala de si, que fala de Futmesa tão somente, e você vai se sentir como se estivesse com ele jogando uma partida de botão, não tenho dúvida. Vai se sentir como se estivesse indo pela primeira vez a Salvador, com ele é claro, como se estivesse fazendo o esporte acontecer, ao seu lado.

Onde começa o Futmesa e termina o Sambaquy ? Ou o inverso ? Agora, quando você for procurá-lo no Google, ele vai estar ao lado de muitas e todas as histórias do esporte já contadas na série GOTHE CROMO GOL. Raramente mesmo aqui, alguém contou a sua história como se apenas estivesse contando a história de como tudo aconteceu, tudo. Deleite-se.

" O amigo Gothe solicitou a minha história, para publicar no GOTHE CROMO GOL, nesse seu Blog maravilhoso que fala do futebol de mesa com propriedade.

Acredito que é muito mais fácil falar do que aconteceu comigo nesses mais de sessenta anos envolvido com o futebol de mesa, do que falar de mim. É claro que são mais de sessenta anos, pois fui apresentado ao futebol de botões em 1947, na casa de um amigo que há muito não encontro. Marco Antonio Barão Vianna foi o responsável por eu me tornar essa pessoa que sou, apaixonado por um esporte que levou muitos anos para ser reconhecido como tal.

De 1947 até 1963, eu fui um praticante do futebol de mesa. Era uma época, em minha cidade, Caxias do Sul, que podíamos visitar os amigos e jogar em suas casas inúmeras partidas. Não havia uma regra padronizada, pois tudo era no mais ou menos isso... Na minha regra isso vale... Posso fazer barreira antes do seu chute? O meu goleiro é maior por que estamos jogando em minha casa, na minha regra... E assim por diante.

Mas, tirando tudo isso, eram sempre agradáveis as manhãs de domingo, pois saiamos para jogar nos diversos bairros da cidade. E as vitórias eram enaltecidas durante a semana inteira.

A partir de 1963, quando iniciei minha carreira no Banco do Brasil, mudei a categoria de praticante para organizador. Tinha de preparar campeonatos, organizar tabelas, convidar pessoas. Mas, estava mais fácil, pois havia uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa que abrira as portas para os marmanjos jogarem sem serem chamados de meninos. E nessa Federação, mãe da Regra Gaúcha, jogamos nossos primeiros campeonatos, de forma amadora. Até que, cobrados pelos demais companheiros de labuta, fomos obrigados a criar uma entidade que fosse a organizadora e responsável pelos campeonatos da cidade. 

Criamos a Liga Caxiense de Futebol de Mesa, da qual fui o seu primeiro presidente. Com isso poderíamos participar dos campeonatos estaduais. Isso foi em 1965.

Um dia, passeando com minhas filhas, parei numa banca de revistas e adquiri um exemplar da Revista do Esporte. Comprei por que, na capa estavam Elton e Gerson, o canhotinha de ouro. Ao chegar em casa, a surpresa. Ao folhear as páginas da revista dou de cara com uma estranha reportagem: " Bahia dá lições de futebol de botões ". Não acreditei. Nós com uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa somos quem dávamos lições de futebol de botão. Como sou metido, escrevi ao signatário da reportagem, pois seu endereço constava no final dela. Oldemar Seixas – rua J. E. Silva Lisboa 48 – Salvador Bahia.

Algumas semanas depois, nova surpresa. Ao chegar a casa, um envelope pardo estava a minha espera. Abri curioso e dele emergiram três botões: um do Vasco da Gama, um do Grêmio e outro do Ypiranga, da Bahia. 

Um goleiro feito de madeira, e várias bolinhas que eram botões do tipo “olho de peixe”. Além disso, algumas fotografias e uma correspondência escrita com máquina de datilografar, em nove laudas, explicando detalhadamente como funcionava o futebol de mesa baiano. Acompanhava um exemplar com as regras utilizadas naquele estado. Apressei-me em responder, enviando também botões que utilizávamos, os nossos puxadores. Mandei-lhe um goleiro, fotografias e bolinhas que utilizávamos na regra gaúcha; acompanhados de um exemplar da regra gaúcha. Começou uma grande amizade que é preservada até os dias de hoje.

Ao comemorarmos o primeiro aniversário da Liga Caxiense, convidamos para um grande torneio em nossa cidade, todas as associações que estavam inscritas na Federação, agora presidida por Gilberto Ghizi. Como já mantínhamos uma correspondência assídua, convidei o Oldemar Seixas para o torneio, que seria realizado na regra gaúcha. E, para a surpresa geral, o convite foi aceito, não só pelo Oldemar, mas também pelo grande Ademar Dias de Carvalho. Eles jogariam na regra gaúcha, mas pediam que conseguíssemos uma tábua com as medidas de 2,20 x 1,60, a qual seria preparada por eles, para uma demonstração do futebol de mesa baiano. 

Conseguimos a tábua e a levamos, junto com as lixas solicitadas, para onde seria realizado o torneio. Eles chegam a Porto Alegre e são recepcionados pelo pessoal da Federação. A seguir rumam para Caxias, junto com os convidados. O torneio foi empolgante, e o Ademar Carvalho consegue brilhantemente ser o vice-campeão, apesar de jogar em uma regra diferente.  Depois das entregas de troféus, os dois fizeram uma demonstração na mesa que prepararam, riscaram, colocaram traves e proteções laterais. Todos os participantes ficaram extasiados diante de uma partida de futebol de mesa que realmente parecia uma partida de futebol, pois os botões estavam uniformizados e eram facilmente identificados.

Foi então que aconteceu o envolvimento de Gilberto Ghizi, com sua diretoria e do pessoal de Caxias, capitaneados por esse apaixonado botonista. A Federação havia solicitado que no ano de 1966, o campeonato estadual fosse realizado em Caxias do Sul, e isso serviu para aproximação do Ghizi, comigo. Conversamos muito sobre como seria interessante ter uma regra que nos unisse aos nordestinos, pois já sabíamos da realização dos Nordestões, onde todos os estados se reuniam para disputar um campeonato. 

A partir disso começamos a idealizar uma regra que fosse a gaúcha aprimorada e a baiana melhorada. Na realização do campeonato estadual de 1966, onde alojamos todos os participantes no Seminário de Caxias, pois os estudantes estavam de férias, realizamos uma grande reunião e o Ghizi expôs o ante projeto da regra que uniria o Brasil.
Foi aprovado por todos os presentes, o que respaldou a nossa ida, no mês seguinte para Salvador. Lá, na Boa Terra, depois de várias noites de reuniões, chegamos a um acordo, que determinou a criação da Regra Brasileira. Dois dias depois de sua aprovação, os exemplares da regra já estavam em nossas mãos. 

Trouxemos uma grande quantidade deles, para serem distribuídas aos botonistas gaúchos. Isso ocasionou um choque em Porto Alegre, pois o ex-presidente Lenine era o proprietário de uma indústria que fabricava as mesas, botões de resina, bolinhas, goleiros, traves, etc., fazendo com que reassumisse a Federação, destituindo o Gilberto Ghizi do cargo de presidente. Nós fomos taxados de traidores. 

Mas, nada haveria de abalar o que havíamos sonhado. Seguimos jogando, agora na Regra Brasileira, com botões lisos e divulgando a nova regra em todo o estado. Houve muita pressão por parte da Federação, inclusive com reportagens na Folha da Tarde Esportiva, dizendo que estavam em guerra com Caxias:  " Uma Guerra de Botões ". Nada disso nos abalou, inclusive nos deu mais força para continuar e lutar para introduzir a nova regra no estado.

E a vitória veio pouco tempo depois, pois em final de 1969 recebemos um convite da Liga Baiana de Futebol de Mesa, convidando-nos para participar do PRIMEIRO CAMPEONATO BRASILEIRO DA MODALIDADE, a realizar-se em janeiro de 1970, em Salvador. Caxias do Sul estava toda irmanada, jogando a Regra Brasileira e não seria difícil a participação. Mas, ledo engano. O pessoal adulto que jogava, jamais tinha saído de nossa cidade e foi difícil conseguir um adulto para acompanhar-me. 

Surgiu, depois de muito esforço, o tesoureiro do Banco do Brasil, Walmor da Silva Medeiros, que se prontificou a viajar para Salvador. Mas, ainda faltavam três participantes, pois seriam cinco as vagas. Três jogariam por equipe e dois no individual. Candidatos existiam, todos menores de idade. Foi um trabalhão, ter de convencer a cada pai e mãe, a permitirem que os filhos viajassem de ônibus, para competir na distante Bahia. 

O outro problema era o financeiro, pois nenhum deles tinha condições de arcar com suas despesas. Por vários dias, percorremos comércio e indústria de Caxias, com um Livro de Ouro, pedindo doações para as despesas com os meninos. Até na Prefeitura estivemos pedindo dinheiro e conseguimos. Faltavam as camisas para a equipe. Não podíamos dispor daquilo que havíamos arrecadado, para custear as despesas de nossos atletas.

Foi então que surgiu a Malharia Sebben, que nos ofertou cinco camisas sociais, na cor azul. Nelas colocamos os distintivos bordados da Liga Caxiense e partimos de ônibus, rumo ao Rio de Janeiro. Lá, só sairíamos no dia seguinte, à noite, em direção à Bahia. Foram dois dias de viagem.  Felizmente tudo deu certo, e, conseguimos escrever o nome do Rio Grande do Sul, entre os participantes do Primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa realizado no Brasil.

No ano seguinte, Pernambuco foi o patrocinador, e novamente estávamos lá, participando do segundo campeonato brasileiro. A surpresa foi, quando decidiram que o terceiro teria de ser no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Caxias. Foi uma luta, mas graças ao bom relacionamento com o presidente da Comissão Municipal de Desportos, Mário de Sá Mourão, conseguimos realizar um grande campeonato. 

Nesse, modificamos o estilo, deixando de realizar o campeonato por equipes e realizando o individual. A idéia foi vital para incrementar o futebol de mesa no Rio Grande do Sul. Convidamos uma dupla, de cada cidade, e todos aderiram. Foi empolgante, tendo o Conselho Municipal de Desportos nos dado ampla cobertura, desde a hospedagem, translado, troféus e alimentação, de todos os participantes. Foi um sucesso. 

Estávamos no ano de 1972. No ano seguinte eu fui transferido, a pedido, para Brusque, Santa Catarina. Antes disso, porém, em novembro de 1973, por ocasião da realização do Primeiro Campeonato Estadual de Futebol de Mesa, na Regra Brasileira, na cidade de Canguçu, por iniciativa nossa, foi criada a União de Ligas do Futebol de Mesa do Rio Grande do Sul, cuja sede ficou na cidade de Caxias, nas mãos de Marcos Antonio Zeni. Foi o embrião da atual Federação Gaucha de Futebol de Mesa.

Em Brusque, ao receber uma medalha, vinda da Liga Brasil de Futebol de Mesa, de Salvador (BA), me distinguindo como um dos mais destacados botonistas do ano, despertou a curiosidade dos novos colegas. 

Ao saberem que se tratava de futebol de mesa, surgiram os que já o haviam praticado. Foi uma coqueluche e logo, todos estavam jogando botão, em vários clubes da cidade. Foi tão envolvente a participação, que acabamos por construir uma sede própria, hoje abandonada por falta de alguém que encabece o retorno do futebol de mesa à cidade.

No ano de 1979, criamos o Primeiro Campeonato Sul Brasileiro de Futebol de Mesa, uma espécie de Nordestão do sul. Nesse campeonato, tivemos a presença do primeiro estrangeiro a disputar um torneio de âmbito nacional, em nossa regra. Um uruguaio, trazido por Dirnei Bottino Custódio. Em 1981 realizamos o sétimo campeonato brasileiro, usando as dependências do tradicional Clube Esportivo Bandeirante, centenária agremiação esportiva da cidade.

Na década de oitenta, depois de fundada a Associação Brasileira de Futebol de Mesa, fui eleito presidente da entidade. A minha administração foi voltada para a aproximação com as demais regras existentes, visando uma unificação, que se mostrou impossível. Mas, ao mesmo tempo, graças as amizade com esses mesmos líderes, foi possível a unificação de forças no sentido de reconhecimento pelo CND, como esporte, visto que o futebol de mesa era considerado apenas como recreação.

Não posso dizer que tudo foram flores. Houve problemas que me fizeram perder a calma, e por essa razão, ao deixar a presidência da Associação Brasileira, me afastei do futebol de mesa. Com isso, muitos dos que praticavam em Brusque, acabaram saindo, e deixando de participar, o que enfraqueceu o movimento de uma maneira definitiva. Éramos a única entidade no Brasil com sede própria, e ninguém mais queria saber de jogar.

Fiquei inativo por muitos anos. Mas, nunca me afastei do movimento, pois mantive contato com as pessoas ligadas ao esporte. Tenho os botões guardados, desde o primeiro time, uma seleção brasileira, que recebi das mãos de Oldemar Seixas, no distante ano de 1966, até um G. E. Flamengo, de Caxias do Sul, que recebi das mãos dos amigos Vanderlei Duarte e Luiz Ernesto Pizzamiglio, em 16 de novembro de 2002.

Há alguns anos fui procurado por um gaúcho, residente aqui em Balneário, que sabendo do meu amor pelo futebol de mesa, queria jogar. Como não tenho mesa, e também estava sem ânimo para reiniciar, fui deixando de lado a solicitação. Até que recebo a noticia que estava sendo criado um clube de futebol de mesa, aqui na cidade. Procurei saber quem estava realizando tal proeza, e, descobri o endereço de Oswaldo Fabeni. 

Enviei-lhe um e-mail, solicitando que atendesse ao amigo gaúcho, e ele prontamente assentiu, solicitando que eu fornecesse meu telefone. De posse do meu número, ligou e conversou sobre o futebol de mesa, na regra de 12 toques. Falei-lhe que em minhas viagens a São Paulo, anos passados, havia jogado com Décourt e Della Torre, dois ícones do futebol de mesa paulista. Então ele perguntou se poderia vir até meu apartamento. Falei que não teria problema algum. No dia seguinte, na hora marcada estava na minha porta, o presidente do Atlântico Sul Futebol de Mesa. 

Veio para um papo de alguns minutos, e só saiu quando anoiteceu. A partir desse dia não me largou mais, e me fez voltar a jogar, embora na regra de doze toques, mas, ao redor da mesa, e com vários amigos, que jamais pensei em conhecer. Tudo isso reativou meu interesse e voltei ao futebol de mesa, desta vez como cronista, pois não tenho mais a garra de antes, e nem ao menos a resistência física, para agüentar várias horas jogando. Ainda bem que na regra de 12 toques o tempo são dez minutos de cada lado, com direito a descansar uns cinco minutos, pois a idade pede.

Falar mais coisas sobre o que fiz no futebol de mesa, me deixaria na obrigação de citar pessoas maravilhosas, que passaram pela minha vida e que fizeram a diferença. Muitos já estão no plano espiritual, outros ainda entre nós. Por isso me permito não declinar nomes, pois poderia esquecer pessoas que são importantes em minha vida. Mas, as emoções sempre são muito grandes, pois quando encontro amigos queridos, que fizeram parte de meus dias, a emoção não é só minha. 

Na última experiência, nas festividades dos 45 anos da AFM Caxias do Sul, ao terminar minha fala, abraçaram-me o Airton Dalla Rosa e o Vanderlei Duarte, e os três choramos, como crianças. Afinal, a vida nos uniu, e o futebol de mesa fez com que nos tornássemos irmãos.

* foto cortesia by Sambaquy